quinta-feira, 24 de julho de 2008

Made in Natal

Auditório da FIERN 14 de Abril de 2008. Ao lado de diversos empresários e especialistas em Informática vi nascer o maior projeto de desenvolvimento tecnológico para o estado do Rio Grande do Norte. O projeto “Metrópole Digital”, detalhado em um outro artigo desta edição da Informática em Revista, propõe colocar o Rio Grande do Norte na vanguarda da produção de bens e serviços de tecnologia.
Em muitos países os serviços de T.I viraram produto de exportação representando percentuais consideráveis do seu PIB. O projeto liderado pelo Deputado Rogério Marinho vem em momento oportuno. O que estamos testemunhamos no mundo com a facilidade e barateamento da comunicação pelo uso de conexões Internet de alta velocidade é a migração de serviços de paises como os Estados Unidos para países com mão de obra qualificada e barata.
A constatação vital é que aquilo que pode ser digitalizado vai ser terceirizado para alguém que possa fazer mais barato, mais rápido e/ou melhor.
Esse tipo de migração do trabalho não se limita ao setor de tecnologia. Cito alguns exemplos de casos reais e que estão acontecendo neste exato momento:
Cerca de 245 mil Indianos atendem ligações de todas as partes do mundo. O cliente de um 0800 nos EUA talvez não saiba, mas poderá estar falando com um jovem Indiano. Somente a empresa Indiana 24/7 Bangalore tem 2500 profissionais em um único prédio trabalhando no Call Center.
Tomografias estão sendo enviadas para empresas Indianas para emissão de laudos. O técnico realiza a tomografia computadoriza presencialmente e compartilha com médicos do outro lado do mundo para a emissão dos laudos. Uma tomografia realizada no final do expediente nos EUA pode ser analisada por médicos de países asiáticos durante seu horário normal de atendimento. Assim o processo ganha rapidez, economia e maior satisfação para o cliente. Estamos falando de empresas e laboratórios 24 horas!
Estima-se que 600 mil americanos tiveram sua declaração de imposto de renda do ano de 2006 realizada por contadores indianos. A pessoa física não precisa conhecer e contratar um escritório de contabilidade indiano, o que ocorre é que escritórios americanos terceirizam parte do serviço para escritórios indianos.
O que você diria então de chegar em um Drive Thru do Mc Donalds, interagir com um monitor de computador e uma voz que confirma seu pedido e tira possíveis dúvidas. Não preciso dizer que seu interlocutor está a milhares de quilômetros, não é verdade!? O que é fato é que projeto piloto do Mc Donads, com 13 lojas, verificou que o modelo provoca maior interação com o cliente e diminui o tempo de atendimento passando a atender 260 carros por hora, frente aos 230 antes da implantação do projeto, sem falar na diminuição de custos com pessoal.

Citei todos esses exemplos para ilustrar um ponto muito importante, o trabalho migrado do povo americano para o trabalhador da Índia e da China, não é de mão de obra desqualificada como verificamos desde o início da década de 90. Assistimos agora esse fenômeno com mão de obra especializada. Ao mesmo tempo não se viu aumento no percentual de desemprego nos EUA.
Onde nós entramos nessa história toda!? O brasileiro possui cultura muito parecida com o povo americano, nosso fuso-horário ajuda a trabalhar em parceria, não estamos submetidos a problemas políticos como é o caso da Índia e da China, nossos técnicos são reconhecidos no mundo como profissionais competentes (imposto de renda on-line, eleições eletrônicas etc); Outro ponto importante é que os Indianos vem perdendo seu maior diferencial competitivo, salários que antes representavam 1/3 dos salários pagos nos EUA há anos sofrem reajustes médios de 18% ao ano devido a forte demanda por seus profissionais. A rotatividade de funcionários de T.I na Índia beira os 20%. Apenas as três maiores empresas de serviços de T.I da Índia possuem 200 mil funcionários. Só a Infosys possui 75 mil profissionais de T.I. Para posicionar o leitor, a maior empresa Brasileira neste setor possui apenas 9.000 funcionários. E sabe qual o maior entrave para um crescimento ainda maior destas empresas? Falta de profissionais qualificados.
Diversos estudos no mundo inteiro mostram que estamos à beira de um “apagão” de profissionais de T.I; somente nos EUA estima-se uma carência de 3 milhões de profissionais até 2016.
É ai que entra a grande oportunidade do projeto metrópole digital. Estimular e criar um ambiente favorável ao desenvolvimento de empresas de T.I e estimular a formação de novos profissionais no Rio Grande do Norte para que possamos entrar na rota do offshore mundial e abocanhar uma parcela maior dos atuais US$ 1,2 trilhão movimentado com a terceirização de serviços de tecnologia no mundo.
Claro que existe um longo dever de casa a ser feito. O projeto não é pioneiro, embora possua algumas características que o diferencia dos demais projetos desenvolvidos e já em operação em alguns Estados brasileiros a exemplo do Porto Digital em Recife. Gostaríamos de ver o projeto efetivamente sair do papel.
Investir nessa industria realmente requer apenas educação e um pouco de incentivo tributário para desenvolver uma industria que hoje praticamente não existe no país.
Finalizo parabenizando a iniciativa do Deputado Rogério Marinho. Um pólo de incentivo a criação de incubadoras de empresas, formação de profissionais de T.I, e estímulos para atrair grandes empresas para Natal, só traz boas perspectivas para nosso mercado.

Erico Fernandes Certificado PMP, ITIL Foundation, COBIT Foundation e Oracle erico.Fernandes@ivia.com.br

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